Garota Atômica - EP04 - T01

em 25 de agosto de 2019



Prédio da Companhia de Energia – Quinta-feira. – 20h00min.

—Olá, Volt. — eu disse, séria. Dessa vez eu não podia perder. — Eu vim lutar de novo.

—Excelente! — ele respondeu. — A oportunidade que o campeão precisa para firmar seu posto!

Logo em seguida ele lançou um soco em minha direção. Entretanto, consegui segurar seu punho, antes que atingisse meu rosto. Não foi o suficiente. Volt acertou meu estômago com seu joelho, me fazendo cambalear para trás. Eu fiquei totalmente atordoada, mas consegui vê-lo vindo em minha direção, preparando uma rajada de eletricidade. Logo, formei um escudo de energia a minha volta.

Dessa vez consegui me manter firme por algum tempo enquanto os raios de volt tentavam penetrar meu campo de força, porém ainda não tinha resistência suficiente e mais uma vez fui lançada para longe. Meu corpo continuou atravessando as paredes de concreto, deixando enormes buracos por onde passava até sair e bater no edifício ao lado, finalmente parando.

Volt continuava vindo em minha direção, enquanto eu tentava sair da rachadura na qual estava presa. Assim que consegui me “desencaixar” da parede quebrada, pensei em voar para tomar distância daquele louco, mas já estava bem perto. Tão perto que começou a me esmurrar inúmeras vezes no rosto. Eu já estava quase inconsciente e totalmente enfraquecida, quando ele agarrou a gola do meu uniforme e deu dois giros, me lançando contra o solo e formando uma cratera ainda maior que a anterior.

—Pessoas de Emerald City! — ele gritava. — Eu, o Volt, provando a minha força excepcional e minha técnica de combate superior, venci a Garota Atômica não uma, mas duas vezes! E como prêmio, eu escolho… O controle total dessa cidade que, a partir de agora se chama… Volt… Ville! Isso! Volt Ville! E assim será, até o dia em que alguém ousar me enfrentar num combate e vencer! Ah, pera aí… Isso é nunca!

Eu ainda estava consciente, mas sabia que ele não pararia até que me visse imóvel, então fechei os olhos e fingi um desmaio. E assim que Volt foi embora, eu me levantei, observando a toda a destruição que ele havia deixado para trás. Para derrotá-lo e impedir que ele começasse um império do terror, eu precisava mais do que só os meus poderes e sabia exatamente o que devia fazer.


***

Casa da Mary – Quinta-feira. – 20h23min.

Eu estava plainando próximo a janela do quarto de Mary. Finalmente a vi acordada depois de muito tempo. Aquilo me causou um estranho frio na barriga.

Ela estava em frente a escrivaninha, usando o notebook, quando vi as rodas de sua cadeira especial, a tristeza caiu sobre meus ombros. Mas não era aquilo que iria me fazer ir embora. Peguei uma pedrinha entre os vasos de plantas do jardim da Sra. Kaplan e joguei na janela do quarto de Mary. Demorou um pouco até que ela notasse de onde vinha o estalar e quando finalmente percebeu, começou a fingir que eu não estava ali. Eu continuei insistindo até ela finalmente vir até a janela e a abrir.

—Meu Deus, o que aconteceu com você? Ah, isso não importa. O que você quer? — ela perguntou, meio ríspida.

—Nós precisamos conversar.

—Ah, agora você quer conversar… — o tom dessa vez foi irônico.

—Mary por favor, me deixa explicar… Aquilo sobre não sermos mais um time, eu…

—Deixa eu adivinhar… Você foi atrás do Volt e apanhou outra vez. Agora veio aqui pra me pedir ajuda só porque não tem mais ninguém que saiba sobre sua identidade secreta ou que consiga te auxiliar durante os combates.
Fiquei em silêncio por um momento. Ela tinha razão em parte do que havia dito. Eu precisava da ajuda dela sim. Mas também queria explicar pra ela o que quis dizer antes. Fazê-la entender minha aflição em vê-la se machucar por minha culpa.
Achei que ela fosse me expulsar, mas ao invés disso, ela abriu mais a janela e disse, suspirando:

—Entra aí…
—Obrigada… — respondi, pulando pra dentro.

***

—Ele é muito rápido! Como um raio! Não tive tempo de me defender ou atacar… — eu explicava para Mary sobre os combates que tive com Volt. — E é forte! Ainda mais forte que eu! Seus impulsos elétricos quebraram meu escudo de energia sem dificuldade! Eu não sei mais o que fazer… Volt precisa ser detido logo ou vai fazer coisas horríveis a Emerald City. Não posso deixar isso acontecer… Mas eu já tentei de tudo!
Nesse momento, ouvi a leve risada de Mary e a olhei.

—O que foi? — perguntei.

—Belly, Belly… Você disse que tentou de tudo?

—Sim, eu tentei de tud…

—Tentou meeesmo de tudo?

—Sim! Usei tudo o que eu tenho! Superforça, voo, super-resistência, projeção de energia…

—E por acaso tentou usar tudo isso aí de jeitos diferentes?

—Como assim?

—Belly, olha, quando você não consegue mais agir da mesma forma, precisa aprender a se adaptar! E acredite, eu estou aprendendo isso aos poucos também… — ela olhou para as próprias pernas e depois voltou a olhar pra mim. — Você tem que achar uma maneira de aperfeiçoar o que tem! Se não dá pra bater de frente, então vá pelos cantos! Se não dá pra combater fogo com fogo, então combata com água!

—Água… — murmurei, pensativa. — Água! Mary Kaplan você é genial! — exclamei, dando-lhe um abraço bem forte, mas a soltando logo em seguida. — Volt é um manipulador de eletricidade! — olhei para ela, que sorriu para mim.

—E em contato com a água, a eletricidade entra em curto! Belly, você só precisa dar um jeito de atrair o Volt pra algum lugar onde ele possa ser atingido diretamente com água!

—Assim ele enfraquece…

—Você dá uma surra nele…

—E a cidade fica a salvo de novo! Mas… — eu então a olhei. — Eu não vou conseguir fazer isso sem ter alguém pra me auxiliar… Podemos ser uma equipe outra vez?

—Hm… — Mary soltou uma risadinha irônica, não vou negar que eu fiquei levemente preocupada. — Só porque você pediu com jeito!

Nós duas então sorrimos. Mas o tilintar de nossos celulares tocando exatamente ao mesmo tempo desviou nossa atenção. Era uma mensagem com um link que levava para uma transmissão oficial da Something S.A. E para a nossa surpresa, quem apareceu na tela não foi Steve Simon.

—Boa noite Volt Ville! — era ele. O Volt. — Bem-vindos ao Shock Show! O seu programa de perguntas sobre… Sobre mim, oras! — ele deu aquela risada pavorosa. — E nós já temos o primeiro participante! Senhor Steve Simon! — uma trilha de aplausos começou a tocar enquanto a câmera cortava para o empresário, que estava amarrado a uma maca de metal. — Belo estúdio, senhor Simon! É uma pena que agora ele seja meu! — mais uma vez, ele riu. — Bom, o jogo é o seguinte… Você acerta as perguntas ou… Eu frito você! — a expressão dele mudou repentinamente, ficando totalmente séria.

Eu e Mary nos entreolhamos. Aquele era o momento certo de agir, tínhamos a localização exata do Volt. Ela apenas balançou a cabeça, confirmando que havia pensado o mesmo que eu. Então corri para a janela e me pendurei no parapeito, levantando voo direto para o prédio principal da Something S.A.


***


Prédio da Something S.A. – Quinta-feira – 21h02min.

—Primeira pergunta, senhor Simon! — Volt andava em volta da maca de metal, lendo um cartão desses que se usa em programas de auditório. — Quem é o melhor dos melhores, superior e mais forte de todos os superpoderosos?

—E-eu… Eu…

—Péééé… — o vilão imitou o som de um alarme. — Resposta errada, senhor Simon! A resposta correta é Volt! Creio que terei de te dar a punição! — ele se afastou um pouco da maca e jogou o cartão longe, entrelaçando os dedos das mãos e se alongando.

—N-não! Por favor… Senhor Volt, olha… Nós podemos negociar!
—Sem negócios, senhor Simon! Eu disse que se o senhor errasse receberia a punição! Além de forte, poderoso e incrível, eu também sou um homem de palavra! Então, vamos ver como seria um bife de 1 metro e 80! — Volt exclamou, preparando uma rajada elétrica.

***

Eu atravessava cada uma das enormes portas de metal do prédio da Something S.A. Mary havia me conseguido uma planta do lugar, então eu sabia exatamente para onde ir. Ela nem precisou vir comigo dessa vez, o que era um quesito a mais em segurança. Nós estávamos de volta e já com força total! Quer dizer… Quase total, parando pra considerar meu celular destruído.
Continuei seguindo até o estúdio onde produziam os comerciais da Something e bati fortemente contra a porta, fazendo nela um buraco.

—Volt! — gritei.

—Você de novo??? — ele se virou imediatamente para mim.

—Eu quero uma revanche! — disse, pousando com as mãos na cintura.

—Você gosta mesmo de apanhar, hein?

—Vai recusar? Tudo bem, eu digo aos cidadãos de “Volt Ville” que o mais poderoso dos superpoderosos fugiu de um combate. — eu sorri.

—O que??? O grande Volt nunca recusa um combate! Quer lutar? Pois bem, vamos lutar! — ele veio pra cima de mim, mas eu levantei voo imediatamente, indo para fora do prédio, em direção a Praça Principal de Emerald City. — O que há com você? — ele gritou, me perseguindo. — Por que não para de fugir e luta como uma mulher???

Aproveitando a inércia do meu voo, comecei a dar inúmeras piruetas, fazendo com que um pequeno tornado se formasse atrás de mim em direção ao Volt. Enquanto girava, comecei a preparar uma esfera de energia bem concentrada. Então me virei para plainar na vertical e terminei o giro, lançando o orbe direto contra ele. O vilão foi jogado alguns metros para trás. Fiquei perplexa por um momento, não sabia que conseguia fazer aquilo! Soltei uma risadinha impressionada, mas logo parei, Volt já havia recuperado a noção de espaço e vinha atrás de mim enfurecido.

Continuei voando em direção a praça com ele tentando me alcançar. Foi quando ouvi os estalos elétricos que vinham de seu corpo, ele já estava preparando o ataque. Mudei a direção do voo e parei ao lado de um poste de luz. E assim que Volt lançou sua rajada elétrica, eu agarrei a barra de metal, permitindo que ele me atingisse. A corrente que passava por meu corpo não estava me causando tanto dano quando antes, minha super-resistência unida a fácil condução de eletricidade do poste estava amenizando a potência do choque. Foi como a Mary disse: usar os poderes de outra forma! Me adaptar ao meio!

—O que? — Volt me olhou, surpreso.

—O que foi? — perguntei sorrindo. — Ficou chocado? — e logo segui caminho ainda para a Praça Principal, eu já estava quase lá.

Foi quando Volt conseguiu me alcançar, passando pelo meu lado e me agarrando pela gola.

—Já chega… — ele grunhiu. — Acha que pode ficar tirando sarro da minha cara? — e começou a me golpear no rosto. — Eu sou Volt! Já venci super-heróis mais fortes que você! — eu não havia sido rápida o suficiente. — Comparada a eles você é só uma formiguinha! E comparada a mim… Você não é nada! — ele me lançou longe, contra o chão.

Eu fiquei totalmente atordoada. Seria aquela mais uma derrota minha? Então olhei em volta e notei que Volt havia me lançado exatamente onde eu queria: no gramado da praça, ao lado do controle dos splinters.

Ele se aproximou se ajoelhou, apoiando uma das pernas sobre meu abdome e aproximando o rosto do meu, sorridente.

—Você perdeu, Garota Atômica. Mais uma vez! Você é fraca!

—Não… — resmunguei, quase sem ar.

—Não importa quantas vezes você me enfrente, sempre vai acabar no chão! Eu sou Volt! E Volt não tem fraqueza!

—É aí… Que você se engana… — respondi, esticando a mão até a chave dos splinters. — Todo mundo tem fraqueza… E a sua… É justamente achar que não tem uma! — conclui, virando a chave e fazendo com que aquela doce dança das águas se espalhasse por toda a praça.
Na mesma hora, Volt saiu de cima de mim e começou a tremer, enquanto seu corpo eletrificado entrava em curto. Eu me levantei, enquanto o observava gritar em agonia e cair de joelhos no chão.

—Ignorar suas fraquezas não te faz o mais forte, Volt! Pelo contrário, reconhecê-las é que faz. Todo mundo tem algo que não consegue vencer! Mas o que diferencia os fortes dos fracos, é a maneira como lidam com isso. Você não é o melhor só porque diz que é! Aliás, você está entre os piores! A polícia está vindo te buscar! Eupensei em ficar para ver o “grande Volt” sendo preso, mas… Eu tenho outras coisas pra resolver… — eu me preparei e em seugida levantei vôo, deixando-o largado entre a grama quase inconsciente.


***

Underdogs – Sexta-feira. – 15h30min.

Eu estava em uma mesa próxima a uma das janelas da lanchonete bebendo um copo grande de refrigerante de limão enquanto esperava Mary. Apesar da batalha intensa da noite anterior, nós não desmarcamos o nosso lanchinho no Underdogs. Ela ainda tinha algo para me dizer e eu realmente queria saber o que era.

Logo a vi, entrando com sua cadeira de rodas e olhando em volta a minha procura. Assim que me viu, ela acenou e veio até minha mesa. Prontamente, me levantei e afastei a cadeira a minha frente, colocando-a para o lado para que Mary pudesse encaixar a dela próximo a mesa.

—Oi! — ela disse, animada.

—Olá! — respondi da mesma forma.

—Pronta pra saber minha novidade?

—Com certeza!

—É sobre… Bom, sobre minha coluna! — ela me olhou e, percebendo meu choque, tentou me acalmar. — Mas não é nada de mau, não se preocupe!

—Então o que é?

—Meus pais conversaram com o médico responsável pela minha cirurgia e ele disse que eu tenho chance de voltar a andar!

—Mary… — eu murmurei, surpresa e feliz com a notícia. — Isso é… É ótimo!!! — senti uma pequena lágrima escorrer pela minha face.

—Ah, não chora… — ela riu, limpando meu rosto.

—Desculpe… Acho que o refrigerante de limão passou pelo lugar errado… — eu brinquei e nós duas rimos.

De repente, ouvimos um estrondo vindo do outro lado da rua. Olhamos pela enorme janela da lanchonete e por entre a fumaça, vimos três homens encapuzados correndo com enormes sacolas de dinheiro. Na mesma hora nos entreolhamos e, dando um leve sorriso, Mary disse baixo:

—Vá pegá-los, Garota Atômica!

Eu sorri de volta, me levantando e correndo para fora da lanchonete.





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