Galpão principal da Something S.A. - Sexta-feira - 23h40min.
—Andem logo, seus molengas! — exclamou a jovem de cabelos castanhos. Ela usava uma roupa colada ao corpo, luvas e botas pretas e estava acompanhada de dois homens altos e musculosos, usando trajes semelhantes ao dela.
Um deles caminhou até uma enorme pilha de caixas de madeira do depósito e ficou as observando por um tempo com uma expressão confusa.
—É a segunda, da direita para a esquerda, no topo. - disse a moça, cruzando os braços.
—Como tem certeza? — o outro brutamonte perguntou, se aproximando um pouco da líder.
—Eu trabalho aqui! Sei a ordem exata de entrega das encomendas do Simon!
—Aqui está, chefe! — o que estava próximo a pilha de caixas pegou uma delas e a colocou no chão, causando um grande ruído. Sua voz era grave, porém mansa, o que lhe dava certo ar de idiota.
—Silêncio, sua grande besta! — ela deu um tapa no braço do capanga, mas ele não esboçou reação.
—É! — o mais esperto concordou. — Não sabe que se ativarmos os alarmes, virão nos pegar? E se vierem, com certeza ela virá junto! — sua voz mudou levemente quando ele disse a palavra “ela”.
—Ela? — a líder sorriu ironicamente. — Não acredito que homens enormes como vocês têm medo daquela garota de colant rosa…
—Sim, nós temos! — exclamou o homem menos inteligente.
—E você também deveria ter. — eu disse, parada há alguns metros do trio. Passei a noite os seguindo, estava apenas esperando o momento certo para agir. Olhei para os capangas e vi suas pernas trêmulas, eles estavam totalmente aterrorizados.
A moça me olhou surpresa e logo deu a ordem:
—Por que ainda estão parados feito dois grandes retardados? Pra cima dela!
Os grandalhões hesitaram por um momento, mas logo correram em minha direção enquanto eu apenas cruzei os braços e esperei até que eles chegassem perto o suficiente. O mais esperto tentou me acertar com um soco, mas eu consegui bloqueá-lo a tempo e rapidamente o empurrando para longe. Não precisei utilizar nem 1/4 da minha força total, apenas fiz com que sua própria brutalidade o derrubasse. O outro foi ainda mais fácil de neutralizar, sua “inteligência peculiar” o fez errar o golpe e eu apenas coloquei minha perna para frente fazendo com que tropeçasse e caísse em cima do primeiro. Então só faltava a moça. Quando olhei para o lugar onde ela estava antes, vi apenas a caixa que havia pedido. Levei o olhar mais a frente e lá estava ela! Corria, carregando uma mochila preta que parecia bem cheia.
—Ah, mas você não vai mesmo… — eu disse em voz baixa, correndo e, logo em seguida, tomando impulso para voar. Passei rapidamente por ela e parei na sua frente. Estava tão apavorada que nem notou que eu não estava mais a perseguindo. Continuou correndo até se chocar contra mim e cair no chão.
Eu então a peguei pela gola da roupa e a arrastei até o fundo do galpão e a joguei no chão junto aos dois homens.
—Prestem muita atenção… — falei, tentando fazer uma voz ameaçadora. — Vocês três vão ficar aqui, sentados e em silêncio até a polícia chegar. — e eu acho que funcionou. — E se eu souber que vocês sequer tentaram escapar… — preparei uma esfera de energia com a mão esquerda e a lancei rapidamente contra o teto, fazendo com que a energia se dissipasse e apagasse todas as lâmpadas. — Apago vocês exatamente como essas lâmpadas.
Antes de sair, peguei meu celular e liguei para a polícia. Seria bem mais fácil se Mary estivesse comigo, ela já teria feito isso. Mas eu não podia arriscar… O que aconteceu antes foi minha culpa e eu não vou deixar que se repita. Nunca mais.
Assim que terminei a ligação levantei voo em linha reta para cima, fazendo um buraco no teto. Eu não queria ter destruído parte do galpão de uma das maiores empresas de tecnologia e publicidade da cidade, mas o que eu podia fazer? Sair por onde entrei demoraria muito e eu estava atrasada para um compromisso!
***
Abri a enorme janela do quarto com cuidado para não fazer barulho. Ninguém deveria saber que eu estava ali. Foi meio difícil segurar um embrulho de presente e virar a tranca ao mesmo tempo. Ainda mais usando uniforme!
Caminhei até a cama e então a vi. Senti meus olhos se encherem de lágrimas, mas consegui segurar e me aproximei mais.
—Oi… — eu disse baixo. Ela continuou dormindo. Desde o dia da cirurgia os médicos estão injetando um sonífero direto em sua corrente sanguínea. Eles fazem isso para que ela consiga dormir sem sentir dor. E tudo isso porque eu fui uma irresponsável.
Nunca venho ao hospital durante o dia. Em parte por estar ocupada com essa coisa toda de super-heroína e em parte por saber que eu não conseguiria olhar nos olhos dela sabendo que fui eu que a fiz perder os movimentos das pernas.
—Espero não estar atrasada… — continuei. — Olha, eu te trouxe um presente! — sorri levemente e coloquei o pacote na mesinha ao lado da cama. — Feliz aniversário, Mary… Você não faz ideia de como foi difícil chegar aqui! — soltei uma risadinha. — Parece até que todos os bandidos da cidade tiraram o dia pra me ocupar! Persegui um trombadinha, impedi uma batida de carros, prendi três ladrões… Até devolvi um pirulito roubado pra uma garotinha de 6 anos! Seu dia também deve ter sido bem cheio… Muitas visitas de aniversário, não é? Bem, eu… Tenho que ir pra casa ou minha mãe vai ficar maluca! Foi bom te ver, Mary. Até amanhã… — me despedi, dando-lhe um beijo na testa e acariciei seus cabelos. Então saí pela mesma janela da qual havia entrado.
***
Uma luz fraca e amarelada se acendeu revelando o centro de uma mesa velha de madeira. Dava-se para ouvir uma sequência de sons estranhos vindos de todos os lados. Água pingando por algum cano talvez.
—Onde… Onde é que eu estou? — um jovem asiático peguntou no escuro, com a respiração pesada.
Sem resposta. O rapaz notou que estava sentado, mas quando tentou se levantar não conseguiu, percebendo então que estava amarrado. Havia cordas em seus tornozelos e pulsos.
—O que é isso? — ele tentou se soltar, mas sem sucesso.
De repente, o rangido de uma porta chamou sua atenção. Assim que ele olhou na direção de onde o som havia vindo, viu uma silhueta masculina.
—Olá?
—Desculpe a demora… — o homem respondeu, se aproximando em passos firmes de lentos. — Eu tinha tantas coisas para preparar…
—Quem é você??? O que você quer??? — o rapaz gritou, apavorado.
—Se acalme… Eu só quero te desejar… — o homem misterioso colocou um pequeno prato com um pedaço de bolo enfeitado e colorido no centro da mesa, iluminado pela luz. — Feliz aniversário!
—O que? — o rapaz olhou para o doce em sua frente.
—Hoje é seu aniversário, este é seu presente… Coma o bolo…
—Mas hoje não é meu aniversário! Que droga é essa? Me solta!!!
—Coma a droga do bolo!!! — ele puxou uma faca e a apontou para o pescoço do jovem. — Ou eu mato você!
—Tá bem, tá bem, tá bem, se acalma! Eu como… Pode ao menos me desamarrar e me dar um garfo?
—Coma de uma vez! — vociferou o homem, agarrando a nuca do rapaz e empurrando sua cabeça contra o prato de bolo e sujando todo seu rosto. Não demorou muito para que ele terminasse de devorar o doce, mesmo sem vontade. E assim que o fez, o sujeito desconhecido levantou sua cabeça, permitindo-o respirar.
—Pronto! Comi esse bolo idiota! Agora eu já posso ir?
—Sim, você pode. — o homem desamarrou-o da cadeira o mais rápido possível. Mas assim que se levantou, o rapaz começou a ter um ataque de convulsão e espuma jorrou de sua boca até que caiu no chão e parou de se mover. O sujeito misterioso sorriu. O jovem acabara de morrer envenenado.
***
Acordei com o som irritante do despertador do meu celular. Nunca pensei que dava pra odiar minha música favorita em menos de uma semana. Peguei o aparelho e pressionei o botão lateral para ver o horário e evei um susto quando vi as mensagens na tela: “Quatro alarmes perdidos – 7:30; 8:00, 8:30, 09:00.”
—Ah, mas que droga! — exclamei, saltando da cama.
***
Eu corria pela rua o mais rápido que podia. Era a segunda vez só aquela semana! Pensei em levantar voo pra ir mais rápido, mas eu não podia. Regra número quatro pra ser super herói: nunca usar os superpoderes em benefício próprio. Além do mais faltava só mais um quarteirão.
Continuei correndo até chegar ao lugar. Abri a porta desesperadamente e dei de cara com um homem alto e de bigode, usando um chapéu de cozinheiro e um domar.
—Bom dia, Gastón… — eu disse, dando um sorrisinho sem graça.
—Está atrasada, Belly… De novo… — ele me estendeu um avental branco. — Anda, veste isso e vai lá pra trás. A Jess vai te dizer o que fazer.
Coloquei o avental bem rápido e fui para o local indicado pelo Gastón. Eu havia arrumado emprego na confeitaria dele há duas semanas, a “Doces e Bolos Lumiére”. É meio difícil manter uma vida dupla sem dinheiro e, é óbvio que minha mãe desconfiaria se eu ficasse pedindo toda hora. Então, como quase toda a adolescente normal, eu decidi arrumar um trabalho de fim de semana.
Fui para trás do balcão e entrei na cozinha. Jess estava lá mexendo uma massa com um fuê em uma tigela de plástico. Ela era a outra garçonete do Gastón, foi contratada um mês antes de mim quando o rapaz antigo mudou de cidade. Tínhamos a mesma idade então nos acostumamos rápido a trabalhar juntas.
—Hey, Jess! — me aproximei dela.
—Olá, Belly! — ela sorriu. — O que foi dessa vez?
—Fiquei acordada até tarde, tinha umas… Tarefas pra terminar.
—Belly, Belly, Belly… — ela colocou uma das mãos no meu ombro. — Talvez você consiga enganar ao Gastón, mas não a mim! Não precisa mentir… Eu sei o que você anda fazendo pra chegar atrasada na confeitaria. — ela sorriu e eu senti meu sangue gelar.
—Você sabe? — perguntei, engolindo seco.
—É claro que sei! Está na cara!
—Está?
—Está sim! Você tá ficando com alguém! É óbvio! Você fica com ele até tarde toda sexta-feira, aí acorda atrasada pro trabalho!
—Ah, bom… — suspirei aliviada. — É quase isso… - soltei uma risadinha.
—Quase isso? Não me diga que… Ai meu Deus, Belly, é uma garota?
—Sim! Quer dizer, não! Quer dizer, é uma garota, mas não é o que você está pensando!
—Então o que é?
—Eu tenho uma amiga e, bom, ela está internada no Hospital Central. Eu vou visitá-la todas as noites, já que não tenho muito tempo durante o dia. Minha casa fica longe do centro então…
—Ah, entendi…
—Bom, o que tem pra fazer hoje?
—Oh, é mesmo! Bom, eu acabei de colocar uns cupcakes no forno. Você espera o beep, tira eles, deixa esfriar e depois confeita com glacê azul-bebê! Ah e tem que ser especificamente esse tom de azul porque a cliente que fez o pedido é muito rigorosa, então por favor não erre! Também tem uma entrega de donuts pra daqui a duas horas! — ela me deu um pedacinho de papel. — Rua Elm, 318, ao lado da pizzaria do Lucci! Acho que é só! Entendeu tudo?
—Ahm, acho que sim… Cupcakes, azul-bebê, donuts, pizzaria! — na verdade eu não fazia ideia do que havia acabado de dizer e, pra piorar a situação, o sininho do balcão começou a tocar sem parar, o que significava somente uma coisa: cliente.
—Só um segundo! — Jess disse com o tom de voz um pouco mais alto e depois se virou de volta para mim. — Eu já volto, pode começar sem mim! Fique à vontade! - ela pegou o controle em cima da mesa e ligou a TV. — Pronto, assim fica menos chato! — sorriu e então foi atender a quem quer que estivesse tocando a campainha loucamente.
Decidi começar a preparar a mistura de glacê para os cupcakes. Não era muito difícil. Peguei uma tigela, alguns ovos e açúcar. Misturei as claras com o açúcar e a coisa toda com essência de baunilha. Eu estava indo bem, até que a voz do apresentador do noticiário me tirou a atenção.
—Uma série de assassinatos misteriosos está chamando a atenção da polícia. Já é o quinto caso de envenenamento em menos de duas semanas. Nossa repórter está no local tentando conseguir mais informações.
A imagem na tela mudou do estúdio para o local onde a vítima foi encontrada.
—Tudo começou há duas semanas atrás, quando uma jovem de aproximadamente 19 anos foi encontrada morta em um local afastado da Praça Principal. A partir daí, uma série de assassinatos começou. A causa das mortes, sempre a mesma: envenenamento. A polícia suspeita de que um serial killer seja o responsável e de que essa morte, não foi a última. As famílias das vítimas fizeram uma série de protestos pedindo por justiça.
A imagem mudou novamente, mostrando a passeata de mães e pais dos garotos mortos e depois para aquela que parecia ser a organizadora daquilo.
—O meu filho está morto! Nossos filhos estão mortos! E o criminoso está solto por aí! A polícia não consegue fazer nada e agora eu pergunto — ela olhou diretamente para a câmera. — Onde estava a Garota Atômica esse tempo todo? Por que você não os salvou? Porque??? — a mulher começou a chorar desesperadamente, parecia que estava olhando diretamente para mim. Eu não aguentei ver aquilo e desliguei a TV o mais rápido que pude. Eu precisava fazer alguma coisa.
Peguei minha mochila, a caixa de donuts e saí correndo. Quando passei pela área da frente da confeitaria vi Jess flertando com o cliente. Um rapaz alto, de cabelos marrons e, devo admitir que tinha um sorriso lindo.
—Bom, semana que vem eu faço 16 anos e um mês exato… — ela disse a ele, apoiando sua cabeça em uma das mãos, até tomou um susto quando me viu passar. — Belly, aonde você vai?
—Entregar os donuts! — respondi quase que imediatamente. Acho que nunca arranjei uma desculpa tão rápido.
—Mas eles só são pra daqui a duas horas!
—Ahm… Quanto mais rápido eu entregar, mais satisfeito o cliente vai ficar!
—Bom, se você diz…
—Com licença! — corri até a porta e saí o mais rápido que pude.
***
Não demorou muito para que eu chegasse até a praça. Havia diversas viaturas e policiais caminhando por toda parte. Pousei com calma e logo me direcionei ao delegado. Ele já tinha me visto.
—Como eu posso ajudar? — perguntei, me aproximando um pouco mais.
—Até agora só temos os nomes das vítimas, data e horário das mortes. Como você já deve saber, todos morreram por envenenamento. A imprensa divulgou os casos como assassinato, mas os exames da perícia revelaram suicídio.
—Mas como?
—Parece que todas as vítimas ingeriram o veneno por conta própria. Não há sinais de luta nos corpos e nem de dificuldade ou resistência para engolir. Mas tem uma coisa que me faz acreditar na hipótese de morte induzida. — ele tirou um saco plástico transparente do bolso e nele havia um cartão rosa claro. — Nós encontramos cartões iguais a este com todas as vítimas. Um cartão para cada corpo. — ele me entregou o objeto. Era um cartão simples, quadrado. Mas o mais estranho era a mensagem gravada com letras douradas nele, dizia: “Feliz aniversário”.
Decidi dar uma olhada no corpo. Aquilo era muito horrendo e assustador. Mas parte de ser uma heroína é enfrentar aquilo que te assusta.
Me aproximei do cara morto. Ele estava caído em meio a grama e sua boca estava aberta. Parecia bem normal, a não ser por uma coisa…
—Hm… Que estranho… — murmurei após passar meu indicador pelo canto da boca do rapaz. Era uma substância cremosa e rosada. — Glacê decorativo…? Delegado! — o chamei me levantando. — Vocês encontraram algum padrão além dos cartões nesses crimes?
—Bom… Sim. Todos fizeram aniversário 30 dias exatos antes de morrerem. É possível que a próxima vítima seja escolhida a partir disso também. Estamos trabalhando duro para impedir que mais jovens morram nas mãos desse assassino.
—E eu estou totalmente disposta a ajudar. Mas eu tenho que ir, tenho um compromisso importante agora. Se fizerem qualquer progresso, por favor, não hesitem em me contatar. — terminei a frase já levantando voo. Ainda tinha trabalho para terminar na confeitaria e se o Gastón percebesse que eu não estava lá, ficaria furioso.
***
Faltavam apenas quinze minutos para o fim do expediente. Eu e Jess estávamos limpando a confeitaria e conversando um pouco enquanto Gastón ficava na porta para ver se não havia nenhum cliente de última hora. Ele era um sujeito bem estranho, tão silencioso…
—Você vai vistar sua amiga no fim de semana? — ela me perguntou, enquanto lavava os instrumentos de cozinha.
—Sim, eu sempre vou… — respondi da forma mais normal que consegui, dando um leve sorriso.
—Ela deve ser muito especial… Quero dizer, pra você visitá-la sempre.
—É sim. — dessa vez consegui sorrir um pouco mais. — Ela ia gostar de conhecer você! Por que não vem comigo na semana que vem?
—Eu adoraria, mas… Não posso, me desculpe. Eu completo um mês de aniversário na próxima semana e vou para a cidade ao lado comemorar com meus pais. Eu sei que isso pode parecer estranho, mas desde que eu vim para cá pra estudar, quase não os vejo. Eu pretendia ir no dia do meu aniversário, mas Gastón não quis me dar férias.
A partir desse ponto da conversa, comecei a observar o que o chefe estava fazendo. Parecia estranho… Há um minuto atrás não estava dando a mínima para o que estávamos fazendo ou falando, mas agora ele parecia nos observar exageradamente, como se estivesse nos espionando. Ele continuou assim por algum tempo e, quando percebeu que eu também estava o observando, desviou o olhar e voltou para perto da entrada.
***
Já faz uma semana que estou trabalhando com a polícia para resolver o caso do Confeiteiro. Nenhum de nós descobriu nada e eu estou ficando aflita. Os oficiais já investigaram todas as confeitarias da cidade, inclusive a do Gastón! Mas nada. Todas estavam limpas.
De repente, o som do meu celular me tirou dos devaneios. Eu o peguei e pressionei o botão lateral para ver o que era. Felizmente era Jess me mandando uma mensagem.
Jess: Oie!
Eu: Olar! Você já foi pra casa dos seus pais?
Jess: Ainda não! Estou no carro com meu tio. Esqueci uma coisa na confeitaria e estou indo lá buscar… O Gastón disse que não tinha problema, ele dorme lá mesmo…
Eu: Ah, entendi.
Jess: E você, o que tá fazendo?
Eu: Procurando informações sobre um garoto.
Jess: Ui, ui! Olha só…
Eu: Mas não encontro nada!
Jess: Sério? :pensive: Nem o Facebook dele?
Eu: Caramba! Eu ando tão avoada que esqueci disso! Obrigada, Jess, você é um anjo!
Jess: Heheheh, que isso! Por nada!
Larguei o celular e corri para pegar meu notebook. A polícia havia me dado a lista de nomes de todas as vítimas do Confeiteiro desde o primeiro assassinato. Eu só precisava digitar os nomes um por um na barra de pesquisa e conseguiria os dados.
Comecei pelo nome do tipo da lista. Lucy Harper, loira, olhos azuis, tinha 17 anos quando foi morto. Trabalhou durante três semanas e seis dias na Doces e Bolos Lumiére. A lista de amigos era relativamente normal. Procurei por alguma anormalidade nas postagens da linha do tempo, mas não havia nada. Então decidi ir para o próximo.
Levei quase uma hora para analisar os perfis de todas as vítimas da lista. E ainda assim não tinha nada. Eu pensei em fazer um intervalo, mas então notei uma coisa estranha no perfil de Cheng Gwan. Ele foi o último a ser morto pelo Confeiteiro desde que a polícia iniciou as investigações. Eu já havia investigado o perfil dele, mas agora uma coisa me chamava atenção: a lista de amigos. Eu não consegui notar de primeira o que era até decidir colocar a janela do Facebook e do bloco de notas uma ao lado da outra. E foi aí que eu notei: os nomes na lista do Gwan, eram os mesmos da lista da polícia! Resolvi ir ainda mais fundo e comecei a verificar as listas de amigos de todos os outros com mais cuidado. Todas as vítimas se conheciam. De alguma forma todos eles estavam conectados.
O que vi em seguida me deixou ainda mais chocada: era Jess na lista de amigos do Gwan! Verifiquei seu status e nele estava a mensagem que esclareceu tudo:
“Trabalhando há três semanas e 5 dias na Doces e Bolos Lumiére.”
—Ah, não… — murmurei, pegando meu celular e digitando uma mensagem para Jess o mais rápido que podia. Sem resposta. — Droga! — grunhi, largando o aparelho e indo até o guarda-roupa apanhar meu uniforme.
***
Jess acordou em um local estranho e escuro. A sua frente, só conseguia ver o centro de uma mesa de madeira. Não se lembrava de nada depois de ter saído do carro de seu tio e isso a deixava assustada.
—Oi? — ela tentava enxergar além do ponto de luz, mas sem sucesso. — Gastón? — na tentativa de mexer os braços, ela notou que estava amarrada.
***
Eu voava o mais rápido que podia pela cidade. Já havia ligado para a polícia. Estava usando meu fone bluetooth com eles para não atrapalhar a velocidade do voo.
—Delegado, eu sei quem é o Confeiteiro! Vocês precisam ir para a Confeitaria Lumiére! Eu já estou a caminho de lá! Por favor sejam rápidos! Ele já está com a próxima vítima! Repetindo, ele já está com a próxima vítima!!! Garota Atômica desligando…
Aquilo era desesperador! Será que eu não podia mais ter amigos? Os flashes daquele dia com Mary não saíam da minha cabeça! Eu falhei… Mas eu não ia permitir que nada acontecesse com a Jess! Eu sou a Garota Atômica! E nada vai me impedir de salvá-la!
***
—Hoje é seu aniversário… — Gastón colocou o bolo na mesa, em frente a Jess. — Coma o bolo…
—Você está me assustando… — ela sentia suas mãos tremerem e sua respiração pesar. — Onde está meu tio?
—Coma o bolo e eu te direi onde está seu tio. — o homem insistiu.
—N-não até dizer o que fez com ele!
—Você vai comer! — assim como da última vez, ele puxou a faca e a apontou para o pescoço de Jess, que começou a chorar na mesma hora.
—Tá bem! Eu faço o que você quiser! — ela dizia entre soluços. — Por favor não me machuque…
—Ótimo, boa garota… — ele segurou o queixo dela com o polegar e o indicador. — Agora coma! — gritou, agarrando a nuca da garota. Mas quando ele ia empurrá-la para o prato, o estrondo da madeira da porta que ficava no teto da sala quebrando e caindo o assustou e ele a soltou.
Um feixe de luz vindo do buraco feito no chão do andar de cima revelou o porão da confeitaria. E do meio dos escombros, a Garota Atômica se levantou.
***
—Sai de perto dela, Gastón!
—Garota Atômica… — Jess murmurou, um tanto extasiada com a minha presença ali.
—Ora, ora, quem diria… A garota cor-de-rosa…
—Acabou, Gastón! Os policiais estão aí fora! E pelo que eu estou vendo, não tem outra porta aqui… Então desamarre a garota e venha pra cá!
—Eu já esperava por isso. — ele disse calmamente. — Eles eram apenas iscas.
—Iscas? Tá me dizendo que todos os jovens que você matou… Você só queria me atrair pra cá? Por que?
—Eu já estava cansado de jovens comuns… Sempre as mesmas reações… Primeiro a confusão, depois o medo… Por fim a redenção. Sempre do mesmo jeito… Não tinha mais graça! Até o dia em que eu te vi pela TV. Seus superpoderes, o modo de agir… Você tem algo que é diferente de todos os outros. E eu queria saber como seria a reação do veneno no seu corpo…
—Você é doente!
—Talvez eu seja… — Gastón sorriu. — Mas… Afinal, quem não é? Bom, eu… Tenho uma coisa pra você… Eu estava guardando para mais tarde, mas… — ele tirou um pequeno pacote do bolso da calça e entregou para mim. Eu não fazia ideia do que era aquilo, mas peguei mesmo assim.
—O que é isso? — perguntei, abrindo o embrulho. Ele continha… Uma bomba de chocolate? Aquilo me deixou um tanto quanto confusa. Até que ou comecei a ouvir ligeiros e curtos beeps que vinham dela. Então eu percebi: era uma bomba de verdade.
—Ela tem meu ingrediente especial e, apesar de pequena, ela preenche muito espaço. — o veneno. Se eu não encontrasse um jeito de me livrar do explosivo, ele espalharia o veneno por toda parte. — Você tem um minuto, garota cor-de-rosa. Sou eu ou a bomba. Faça sua escolha.
Voei para fora da Confeitaria o mais rápido que pude, indo pra longe. Os beeps da bomba me afligiam cada vez mais. Eu não podia simplesmente jogá-la para o céu e esperar que explodisse, o veneno cairia sobre uma grande parcela da cidade. Pensei em levá-la para o deserto, mas só me restavam 30 segundos, não daria tempo. E aí eu fiz a única coisa que me restava fazer: a abracei. Sim, a abracei, o mais forte que podia! Minha pele impenetrável não deixaria o veneno se espalhar.
3… 2… 1… Caboom!
Não me lembro de mais nada depois do último segundo. Quando acordei estava na rua vazia. Tossi um pouco, minha respiração estava fraca, mas eu ainda estava viva. Quando olhei para meu uniforme, o vi rasgado e queimado quase que inteiramente. Parte dele estava derretida. Não entendo como a máscara ainda estava inteira.
—Droga… — me levantei, tossindo mais um pouco. — Que bom que eu já recebi o salário…
Em seguida levantei voo de volta para confeitaria. Quando cheguei lá, os policiais estavam limpando a cena do crime. Dois deles conduziam Gastón, o Confeiteiro, para a viatura. Assim que me viu, o delegado se aproximou.
—Garota Atômica… Em nome de toda a força policial e dos cidadãos, eu gostaria de agradecer… Você não salvou apenas a vida daquela garota, você salvou a todos nós . O veneno do Confeiteiro tinha o efeito de derretimento após certo período de tempo. — agora entendi o que houve com meu uniforme. — Se você não tivesse levado a bomba, a cidade estaria arruinada.
—Eu só fiz o que devia fazer.
Nesse momento, senti uma mão sobre meu ombro e me virei. Era Jess e, se aproximando ainda mais de mim, disse:
—Oi… — e sorriu de leve.
—Oi! — respondi, sorrindo e colocando as mãos na cintura. — Você está bem?
—Bom, eu não morri! — ela riu. — Melhor impossível… - parecia até mesmo radiante. — Eu só… Queria dizer… É…
—Sim?
—Obrigada! — ela me abraçou com força e depois permaneceu agarrada ao meu pescoço. — É que eu… Eu sou uma grande fã sua e… Eu nunca imaginei que um dia eu… — percebendo o que estava fazendo, ela me soltou e se recompôs, ajeitando a roupa. — Ahm… Ficaria tão perto de você.
—Você já ficou perto de mim há mais do que imagina! - eu sorri uma última vez e em seguida levantei voo.
***
Me aproximei da cama de Mary. Nesse exato momento meu celular vibrou. Era Jess mais uma vez.
Jess: BELLY, VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR!
Eu: O que houve?
Jess: Eu vi a Garota Atômica! Tipo, na minha frente! Ela me salvou!
Eu: Como assim salvou? Você tá bem?
Jess: Depois eu te explico! Estou quase sem bateria! Nos vemos quando eu voltar da casa dos meus pais! Beijos!
Eu: Beijos! Até logo!
Guardei o celular novamente e então olhei para Mary adormecida.
—Oi, amiga… — eu sorri levemente. — Você não vai acreditar no dia que eu tive hoje.
***
—Passe de novo. — disse um homem alto e de terno, sentado em frente a uma enorme mesa, olhando para uma tela de TV do outro lado da sala. As imagens transmitidas eram das câmeras de segurança do galpão capturadas na última semana durante a tentativa de roubo que Garota Atômica impediu.
O homem observava o momento em que a heroína lançara a rajada de energia contra as lâmpadas.
—Isso é interessante… — ele sorriu. — Sei como posso usar.
Um deles caminhou até uma enorme pilha de caixas de madeira do depósito e ficou as observando por um tempo com uma expressão confusa.
—É a segunda, da direita para a esquerda, no topo. - disse a moça, cruzando os braços.
—Como tem certeza? — o outro brutamonte perguntou, se aproximando um pouco da líder.
—Eu trabalho aqui! Sei a ordem exata de entrega das encomendas do Simon!
—Aqui está, chefe! — o que estava próximo a pilha de caixas pegou uma delas e a colocou no chão, causando um grande ruído. Sua voz era grave, porém mansa, o que lhe dava certo ar de idiota.
—Silêncio, sua grande besta! — ela deu um tapa no braço do capanga, mas ele não esboçou reação.
—É! — o mais esperto concordou. — Não sabe que se ativarmos os alarmes, virão nos pegar? E se vierem, com certeza ela virá junto! — sua voz mudou levemente quando ele disse a palavra “ela”.
—Ela? — a líder sorriu ironicamente. — Não acredito que homens enormes como vocês têm medo daquela garota de colant rosa…
—Sim, nós temos! — exclamou o homem menos inteligente.
—E você também deveria ter. — eu disse, parada há alguns metros do trio. Passei a noite os seguindo, estava apenas esperando o momento certo para agir. Olhei para os capangas e vi suas pernas trêmulas, eles estavam totalmente aterrorizados.
A moça me olhou surpresa e logo deu a ordem:
—Por que ainda estão parados feito dois grandes retardados? Pra cima dela!
Os grandalhões hesitaram por um momento, mas logo correram em minha direção enquanto eu apenas cruzei os braços e esperei até que eles chegassem perto o suficiente. O mais esperto tentou me acertar com um soco, mas eu consegui bloqueá-lo a tempo e rapidamente o empurrando para longe. Não precisei utilizar nem 1/4 da minha força total, apenas fiz com que sua própria brutalidade o derrubasse. O outro foi ainda mais fácil de neutralizar, sua “inteligência peculiar” o fez errar o golpe e eu apenas coloquei minha perna para frente fazendo com que tropeçasse e caísse em cima do primeiro. Então só faltava a moça. Quando olhei para o lugar onde ela estava antes, vi apenas a caixa que havia pedido. Levei o olhar mais a frente e lá estava ela! Corria, carregando uma mochila preta que parecia bem cheia.
—Ah, mas você não vai mesmo… — eu disse em voz baixa, correndo e, logo em seguida, tomando impulso para voar. Passei rapidamente por ela e parei na sua frente. Estava tão apavorada que nem notou que eu não estava mais a perseguindo. Continuou correndo até se chocar contra mim e cair no chão.
Eu então a peguei pela gola da roupa e a arrastei até o fundo do galpão e a joguei no chão junto aos dois homens.
—Prestem muita atenção… — falei, tentando fazer uma voz ameaçadora. — Vocês três vão ficar aqui, sentados e em silêncio até a polícia chegar. — e eu acho que funcionou. — E se eu souber que vocês sequer tentaram escapar… — preparei uma esfera de energia com a mão esquerda e a lancei rapidamente contra o teto, fazendo com que a energia se dissipasse e apagasse todas as lâmpadas. — Apago vocês exatamente como essas lâmpadas.
Antes de sair, peguei meu celular e liguei para a polícia. Seria bem mais fácil se Mary estivesse comigo, ela já teria feito isso. Mas eu não podia arriscar… O que aconteceu antes foi minha culpa e eu não vou deixar que se repita. Nunca mais.
Assim que terminei a ligação levantei voo em linha reta para cima, fazendo um buraco no teto. Eu não queria ter destruído parte do galpão de uma das maiores empresas de tecnologia e publicidade da cidade, mas o que eu podia fazer? Sair por onde entrei demoraria muito e eu estava atrasada para um compromisso!
***
Hospital Central - Sexta-feira - 23h55min.
Abri a enorme janela do quarto com cuidado para não fazer barulho. Ninguém deveria saber que eu estava ali. Foi meio difícil segurar um embrulho de presente e virar a tranca ao mesmo tempo. Ainda mais usando uniforme!
Caminhei até a cama e então a vi. Senti meus olhos se encherem de lágrimas, mas consegui segurar e me aproximei mais.
—Oi… — eu disse baixo. Ela continuou dormindo. Desde o dia da cirurgia os médicos estão injetando um sonífero direto em sua corrente sanguínea. Eles fazem isso para que ela consiga dormir sem sentir dor. E tudo isso porque eu fui uma irresponsável.
Nunca venho ao hospital durante o dia. Em parte por estar ocupada com essa coisa toda de super-heroína e em parte por saber que eu não conseguiria olhar nos olhos dela sabendo que fui eu que a fiz perder os movimentos das pernas.
—Espero não estar atrasada… — continuei. — Olha, eu te trouxe um presente! — sorri levemente e coloquei o pacote na mesinha ao lado da cama. — Feliz aniversário, Mary… Você não faz ideia de como foi difícil chegar aqui! — soltei uma risadinha. — Parece até que todos os bandidos da cidade tiraram o dia pra me ocupar! Persegui um trombadinha, impedi uma batida de carros, prendi três ladrões… Até devolvi um pirulito roubado pra uma garotinha de 6 anos! Seu dia também deve ter sido bem cheio… Muitas visitas de aniversário, não é? Bem, eu… Tenho que ir pra casa ou minha mãe vai ficar maluca! Foi bom te ver, Mary. Até amanhã… — me despedi, dando-lhe um beijo na testa e acariciei seus cabelos. Então saí pela mesma janela da qual havia entrado.
***
Local desconhecido - Sábado - 01h00min.
Uma luz fraca e amarelada se acendeu revelando o centro de uma mesa velha de madeira. Dava-se para ouvir uma sequência de sons estranhos vindos de todos os lados. Água pingando por algum cano talvez.
—Onde… Onde é que eu estou? — um jovem asiático peguntou no escuro, com a respiração pesada.
Sem resposta. O rapaz notou que estava sentado, mas quando tentou se levantar não conseguiu, percebendo então que estava amarrado. Havia cordas em seus tornozelos e pulsos.
—O que é isso? — ele tentou se soltar, mas sem sucesso.
De repente, o rangido de uma porta chamou sua atenção. Assim que ele olhou na direção de onde o som havia vindo, viu uma silhueta masculina.
—Olá?
—Desculpe a demora… — o homem respondeu, se aproximando em passos firmes de lentos. — Eu tinha tantas coisas para preparar…
—Quem é você??? O que você quer??? — o rapaz gritou, apavorado.
—Se acalme… Eu só quero te desejar… — o homem misterioso colocou um pequeno prato com um pedaço de bolo enfeitado e colorido no centro da mesa, iluminado pela luz. — Feliz aniversário!
—O que? — o rapaz olhou para o doce em sua frente.
—Hoje é seu aniversário, este é seu presente… Coma o bolo…
—Mas hoje não é meu aniversário! Que droga é essa? Me solta!!!
—Coma a droga do bolo!!! — ele puxou uma faca e a apontou para o pescoço do jovem. — Ou eu mato você!
—Tá bem, tá bem, tá bem, se acalma! Eu como… Pode ao menos me desamarrar e me dar um garfo?
—Coma de uma vez! — vociferou o homem, agarrando a nuca do rapaz e empurrando sua cabeça contra o prato de bolo e sujando todo seu rosto. Não demorou muito para que ele terminasse de devorar o doce, mesmo sem vontade. E assim que o fez, o sujeito desconhecido levantou sua cabeça, permitindo-o respirar.
—Pronto! Comi esse bolo idiota! Agora eu já posso ir?
—Sim, você pode. — o homem desamarrou-o da cadeira o mais rápido possível. Mas assim que se levantou, o rapaz começou a ter um ataque de convulsão e espuma jorrou de sua boca até que caiu no chão e parou de se mover. O sujeito misterioso sorriu. O jovem acabara de morrer envenenado.
***
Casa da Belly - Sábado - 09h30min.
Acordei com o som irritante do despertador do meu celular. Nunca pensei que dava pra odiar minha música favorita em menos de uma semana. Peguei o aparelho e pressionei o botão lateral para ver o horário e evei um susto quando vi as mensagens na tela: “Quatro alarmes perdidos – 7:30; 8:00, 8:30, 09:00.”
—Ah, mas que droga! — exclamei, saltando da cama.
***
Eu corria pela rua o mais rápido que podia. Era a segunda vez só aquela semana! Pensei em levantar voo pra ir mais rápido, mas eu não podia. Regra número quatro pra ser super herói: nunca usar os superpoderes em benefício próprio. Além do mais faltava só mais um quarteirão.
Continuei correndo até chegar ao lugar. Abri a porta desesperadamente e dei de cara com um homem alto e de bigode, usando um chapéu de cozinheiro e um domar.
—Bom dia, Gastón… — eu disse, dando um sorrisinho sem graça.
—Está atrasada, Belly… De novo… — ele me estendeu um avental branco. — Anda, veste isso e vai lá pra trás. A Jess vai te dizer o que fazer.
Coloquei o avental bem rápido e fui para o local indicado pelo Gastón. Eu havia arrumado emprego na confeitaria dele há duas semanas, a “Doces e Bolos Lumiére”. É meio difícil manter uma vida dupla sem dinheiro e, é óbvio que minha mãe desconfiaria se eu ficasse pedindo toda hora. Então, como quase toda a adolescente normal, eu decidi arrumar um trabalho de fim de semana.
Fui para trás do balcão e entrei na cozinha. Jess estava lá mexendo uma massa com um fuê em uma tigela de plástico. Ela era a outra garçonete do Gastón, foi contratada um mês antes de mim quando o rapaz antigo mudou de cidade. Tínhamos a mesma idade então nos acostumamos rápido a trabalhar juntas.
—Hey, Jess! — me aproximei dela.
—Olá, Belly! — ela sorriu. — O que foi dessa vez?
—Fiquei acordada até tarde, tinha umas… Tarefas pra terminar.
—Belly, Belly, Belly… — ela colocou uma das mãos no meu ombro. — Talvez você consiga enganar ao Gastón, mas não a mim! Não precisa mentir… Eu sei o que você anda fazendo pra chegar atrasada na confeitaria. — ela sorriu e eu senti meu sangue gelar.
—Você sabe? — perguntei, engolindo seco.
—É claro que sei! Está na cara!
—Está?
—Está sim! Você tá ficando com alguém! É óbvio! Você fica com ele até tarde toda sexta-feira, aí acorda atrasada pro trabalho!
—Ah, bom… — suspirei aliviada. — É quase isso… - soltei uma risadinha.
—Quase isso? Não me diga que… Ai meu Deus, Belly, é uma garota?
—Sim! Quer dizer, não! Quer dizer, é uma garota, mas não é o que você está pensando!
—Então o que é?
—Eu tenho uma amiga e, bom, ela está internada no Hospital Central. Eu vou visitá-la todas as noites, já que não tenho muito tempo durante o dia. Minha casa fica longe do centro então…
—Ah, entendi…
—Bom, o que tem pra fazer hoje?
—Oh, é mesmo! Bom, eu acabei de colocar uns cupcakes no forno. Você espera o beep, tira eles, deixa esfriar e depois confeita com glacê azul-bebê! Ah e tem que ser especificamente esse tom de azul porque a cliente que fez o pedido é muito rigorosa, então por favor não erre! Também tem uma entrega de donuts pra daqui a duas horas! — ela me deu um pedacinho de papel. — Rua Elm, 318, ao lado da pizzaria do Lucci! Acho que é só! Entendeu tudo?
—Ahm, acho que sim… Cupcakes, azul-bebê, donuts, pizzaria! — na verdade eu não fazia ideia do que havia acabado de dizer e, pra piorar a situação, o sininho do balcão começou a tocar sem parar, o que significava somente uma coisa: cliente.
—Só um segundo! — Jess disse com o tom de voz um pouco mais alto e depois se virou de volta para mim. — Eu já volto, pode começar sem mim! Fique à vontade! - ela pegou o controle em cima da mesa e ligou a TV. — Pronto, assim fica menos chato! — sorriu e então foi atender a quem quer que estivesse tocando a campainha loucamente.
Decidi começar a preparar a mistura de glacê para os cupcakes. Não era muito difícil. Peguei uma tigela, alguns ovos e açúcar. Misturei as claras com o açúcar e a coisa toda com essência de baunilha. Eu estava indo bem, até que a voz do apresentador do noticiário me tirou a atenção.
—Uma série de assassinatos misteriosos está chamando a atenção da polícia. Já é o quinto caso de envenenamento em menos de duas semanas. Nossa repórter está no local tentando conseguir mais informações.
A imagem na tela mudou do estúdio para o local onde a vítima foi encontrada.
—Tudo começou há duas semanas atrás, quando uma jovem de aproximadamente 19 anos foi encontrada morta em um local afastado da Praça Principal. A partir daí, uma série de assassinatos começou. A causa das mortes, sempre a mesma: envenenamento. A polícia suspeita de que um serial killer seja o responsável e de que essa morte, não foi a última. As famílias das vítimas fizeram uma série de protestos pedindo por justiça.
A imagem mudou novamente, mostrando a passeata de mães e pais dos garotos mortos e depois para aquela que parecia ser a organizadora daquilo.
—O meu filho está morto! Nossos filhos estão mortos! E o criminoso está solto por aí! A polícia não consegue fazer nada e agora eu pergunto — ela olhou diretamente para a câmera. — Onde estava a Garota Atômica esse tempo todo? Por que você não os salvou? Porque??? — a mulher começou a chorar desesperadamente, parecia que estava olhando diretamente para mim. Eu não aguentei ver aquilo e desliguei a TV o mais rápido que pude. Eu precisava fazer alguma coisa.
Peguei minha mochila, a caixa de donuts e saí correndo. Quando passei pela área da frente da confeitaria vi Jess flertando com o cliente. Um rapaz alto, de cabelos marrons e, devo admitir que tinha um sorriso lindo.
—Bom, semana que vem eu faço 16 anos e um mês exato… — ela disse a ele, apoiando sua cabeça em uma das mãos, até tomou um susto quando me viu passar. — Belly, aonde você vai?
—Entregar os donuts! — respondi quase que imediatamente. Acho que nunca arranjei uma desculpa tão rápido.
—Mas eles só são pra daqui a duas horas!
—Ahm… Quanto mais rápido eu entregar, mais satisfeito o cliente vai ficar!
—Bom, se você diz…
—Com licença! — corri até a porta e saí o mais rápido que pude.
***
Não demorou muito para que eu chegasse até a praça. Havia diversas viaturas e policiais caminhando por toda parte. Pousei com calma e logo me direcionei ao delegado. Ele já tinha me visto.
—Como eu posso ajudar? — perguntei, me aproximando um pouco mais.
—Até agora só temos os nomes das vítimas, data e horário das mortes. Como você já deve saber, todos morreram por envenenamento. A imprensa divulgou os casos como assassinato, mas os exames da perícia revelaram suicídio.
—Mas como?
—Parece que todas as vítimas ingeriram o veneno por conta própria. Não há sinais de luta nos corpos e nem de dificuldade ou resistência para engolir. Mas tem uma coisa que me faz acreditar na hipótese de morte induzida. — ele tirou um saco plástico transparente do bolso e nele havia um cartão rosa claro. — Nós encontramos cartões iguais a este com todas as vítimas. Um cartão para cada corpo. — ele me entregou o objeto. Era um cartão simples, quadrado. Mas o mais estranho era a mensagem gravada com letras douradas nele, dizia: “Feliz aniversário”.
Decidi dar uma olhada no corpo. Aquilo era muito horrendo e assustador. Mas parte de ser uma heroína é enfrentar aquilo que te assusta.
Me aproximei do cara morto. Ele estava caído em meio a grama e sua boca estava aberta. Parecia bem normal, a não ser por uma coisa…
—Hm… Que estranho… — murmurei após passar meu indicador pelo canto da boca do rapaz. Era uma substância cremosa e rosada. — Glacê decorativo…? Delegado! — o chamei me levantando. — Vocês encontraram algum padrão além dos cartões nesses crimes?
—Bom… Sim. Todos fizeram aniversário 30 dias exatos antes de morrerem. É possível que a próxima vítima seja escolhida a partir disso também. Estamos trabalhando duro para impedir que mais jovens morram nas mãos desse assassino.
—E eu estou totalmente disposta a ajudar. Mas eu tenho que ir, tenho um compromisso importante agora. Se fizerem qualquer progresso, por favor, não hesitem em me contatar. — terminei a frase já levantando voo. Ainda tinha trabalho para terminar na confeitaria e se o Gastón percebesse que eu não estava lá, ficaria furioso.
***
Doces e Bolos Lumiére – Sábado – 17h45min
Faltavam apenas quinze minutos para o fim do expediente. Eu e Jess estávamos limpando a confeitaria e conversando um pouco enquanto Gastón ficava na porta para ver se não havia nenhum cliente de última hora. Ele era um sujeito bem estranho, tão silencioso…
—Você vai vistar sua amiga no fim de semana? — ela me perguntou, enquanto lavava os instrumentos de cozinha.
—Sim, eu sempre vou… — respondi da forma mais normal que consegui, dando um leve sorriso.
—Ela deve ser muito especial… Quero dizer, pra você visitá-la sempre.
—É sim. — dessa vez consegui sorrir um pouco mais. — Ela ia gostar de conhecer você! Por que não vem comigo na semana que vem?
—Eu adoraria, mas… Não posso, me desculpe. Eu completo um mês de aniversário na próxima semana e vou para a cidade ao lado comemorar com meus pais. Eu sei que isso pode parecer estranho, mas desde que eu vim para cá pra estudar, quase não os vejo. Eu pretendia ir no dia do meu aniversário, mas Gastón não quis me dar férias.
A partir desse ponto da conversa, comecei a observar o que o chefe estava fazendo. Parecia estranho… Há um minuto atrás não estava dando a mínima para o que estávamos fazendo ou falando, mas agora ele parecia nos observar exageradamente, como se estivesse nos espionando. Ele continuou assim por algum tempo e, quando percebeu que eu também estava o observando, desviou o olhar e voltou para perto da entrada.
***
Casa da Belly – Sexta-feira – 22h30min
Já faz uma semana que estou trabalhando com a polícia para resolver o caso do Confeiteiro. Nenhum de nós descobriu nada e eu estou ficando aflita. Os oficiais já investigaram todas as confeitarias da cidade, inclusive a do Gastón! Mas nada. Todas estavam limpas.
De repente, o som do meu celular me tirou dos devaneios. Eu o peguei e pressionei o botão lateral para ver o que era. Felizmente era Jess me mandando uma mensagem.
Jess: Oie!
Eu: Olar! Você já foi pra casa dos seus pais?
Jess: Ainda não! Estou no carro com meu tio. Esqueci uma coisa na confeitaria e estou indo lá buscar… O Gastón disse que não tinha problema, ele dorme lá mesmo…
Eu: Ah, entendi.
Jess: E você, o que tá fazendo?
Eu: Procurando informações sobre um garoto.
Jess: Ui, ui! Olha só…
Eu: Mas não encontro nada!
Jess: Sério? :pensive: Nem o Facebook dele?
Eu: Caramba! Eu ando tão avoada que esqueci disso! Obrigada, Jess, você é um anjo!
Jess: Heheheh, que isso! Por nada!
Larguei o celular e corri para pegar meu notebook. A polícia havia me dado a lista de nomes de todas as vítimas do Confeiteiro desde o primeiro assassinato. Eu só precisava digitar os nomes um por um na barra de pesquisa e conseguiria os dados.
Comecei pelo nome do tipo da lista. Lucy Harper, loira, olhos azuis, tinha 17 anos quando foi morto. Trabalhou durante três semanas e seis dias na Doces e Bolos Lumiére. A lista de amigos era relativamente normal. Procurei por alguma anormalidade nas postagens da linha do tempo, mas não havia nada. Então decidi ir para o próximo.
Levei quase uma hora para analisar os perfis de todas as vítimas da lista. E ainda assim não tinha nada. Eu pensei em fazer um intervalo, mas então notei uma coisa estranha no perfil de Cheng Gwan. Ele foi o último a ser morto pelo Confeiteiro desde que a polícia iniciou as investigações. Eu já havia investigado o perfil dele, mas agora uma coisa me chamava atenção: a lista de amigos. Eu não consegui notar de primeira o que era até decidir colocar a janela do Facebook e do bloco de notas uma ao lado da outra. E foi aí que eu notei: os nomes na lista do Gwan, eram os mesmos da lista da polícia! Resolvi ir ainda mais fundo e comecei a verificar as listas de amigos de todos os outros com mais cuidado. Todas as vítimas se conheciam. De alguma forma todos eles estavam conectados.
O que vi em seguida me deixou ainda mais chocada: era Jess na lista de amigos do Gwan! Verifiquei seu status e nele estava a mensagem que esclareceu tudo:
“Trabalhando há três semanas e 5 dias na Doces e Bolos Lumiére.”
—Ah, não… — murmurei, pegando meu celular e digitando uma mensagem para Jess o mais rápido que podia. Sem resposta. — Droga! — grunhi, largando o aparelho e indo até o guarda-roupa apanhar meu uniforme.
***
Local desconhecido – Sexta-feira – 23h50min.
Jess acordou em um local estranho e escuro. A sua frente, só conseguia ver o centro de uma mesa de madeira. Não se lembrava de nada depois de ter saído do carro de seu tio e isso a deixava assustada.
—Oi? — ela tentava enxergar além do ponto de luz, mas sem sucesso. — Gastón? — na tentativa de mexer os braços, ela notou que estava amarrada.
***
Eu voava o mais rápido que podia pela cidade. Já havia ligado para a polícia. Estava usando meu fone bluetooth com eles para não atrapalhar a velocidade do voo.
—Delegado, eu sei quem é o Confeiteiro! Vocês precisam ir para a Confeitaria Lumiére! Eu já estou a caminho de lá! Por favor sejam rápidos! Ele já está com a próxima vítima! Repetindo, ele já está com a próxima vítima!!! Garota Atômica desligando…
Aquilo era desesperador! Será que eu não podia mais ter amigos? Os flashes daquele dia com Mary não saíam da minha cabeça! Eu falhei… Mas eu não ia permitir que nada acontecesse com a Jess! Eu sou a Garota Atômica! E nada vai me impedir de salvá-la!
***
—Hoje é seu aniversário… — Gastón colocou o bolo na mesa, em frente a Jess. — Coma o bolo…
—Você está me assustando… — ela sentia suas mãos tremerem e sua respiração pesar. — Onde está meu tio?
—Coma o bolo e eu te direi onde está seu tio. — o homem insistiu.
—N-não até dizer o que fez com ele!
—Você vai comer! — assim como da última vez, ele puxou a faca e a apontou para o pescoço de Jess, que começou a chorar na mesma hora.
—Tá bem! Eu faço o que você quiser! — ela dizia entre soluços. — Por favor não me machuque…
—Ótimo, boa garota… — ele segurou o queixo dela com o polegar e o indicador. — Agora coma! — gritou, agarrando a nuca da garota. Mas quando ele ia empurrá-la para o prato, o estrondo da madeira da porta que ficava no teto da sala quebrando e caindo o assustou e ele a soltou.
Um feixe de luz vindo do buraco feito no chão do andar de cima revelou o porão da confeitaria. E do meio dos escombros, a Garota Atômica se levantou.
***
—Sai de perto dela, Gastón!
—Garota Atômica… — Jess murmurou, um tanto extasiada com a minha presença ali.
—Ora, ora, quem diria… A garota cor-de-rosa…
—Acabou, Gastón! Os policiais estão aí fora! E pelo que eu estou vendo, não tem outra porta aqui… Então desamarre a garota e venha pra cá!
—Eu já esperava por isso. — ele disse calmamente. — Eles eram apenas iscas.
—Iscas? Tá me dizendo que todos os jovens que você matou… Você só queria me atrair pra cá? Por que?
—Eu já estava cansado de jovens comuns… Sempre as mesmas reações… Primeiro a confusão, depois o medo… Por fim a redenção. Sempre do mesmo jeito… Não tinha mais graça! Até o dia em que eu te vi pela TV. Seus superpoderes, o modo de agir… Você tem algo que é diferente de todos os outros. E eu queria saber como seria a reação do veneno no seu corpo…
—Você é doente!
—Talvez eu seja… — Gastón sorriu. — Mas… Afinal, quem não é? Bom, eu… Tenho uma coisa pra você… Eu estava guardando para mais tarde, mas… — ele tirou um pequeno pacote do bolso da calça e entregou para mim. Eu não fazia ideia do que era aquilo, mas peguei mesmo assim.
—O que é isso? — perguntei, abrindo o embrulho. Ele continha… Uma bomba de chocolate? Aquilo me deixou um tanto quanto confusa. Até que ou comecei a ouvir ligeiros e curtos beeps que vinham dela. Então eu percebi: era uma bomba de verdade.
—Ela tem meu ingrediente especial e, apesar de pequena, ela preenche muito espaço. — o veneno. Se eu não encontrasse um jeito de me livrar do explosivo, ele espalharia o veneno por toda parte. — Você tem um minuto, garota cor-de-rosa. Sou eu ou a bomba. Faça sua escolha.
Voei para fora da Confeitaria o mais rápido que pude, indo pra longe. Os beeps da bomba me afligiam cada vez mais. Eu não podia simplesmente jogá-la para o céu e esperar que explodisse, o veneno cairia sobre uma grande parcela da cidade. Pensei em levá-la para o deserto, mas só me restavam 30 segundos, não daria tempo. E aí eu fiz a única coisa que me restava fazer: a abracei. Sim, a abracei, o mais forte que podia! Minha pele impenetrável não deixaria o veneno se espalhar.
3… 2… 1… Caboom!
Não me lembro de mais nada depois do último segundo. Quando acordei estava na rua vazia. Tossi um pouco, minha respiração estava fraca, mas eu ainda estava viva. Quando olhei para meu uniforme, o vi rasgado e queimado quase que inteiramente. Parte dele estava derretida. Não entendo como a máscara ainda estava inteira.
—Droga… — me levantei, tossindo mais um pouco. — Que bom que eu já recebi o salário…
Em seguida levantei voo de volta para confeitaria. Quando cheguei lá, os policiais estavam limpando a cena do crime. Dois deles conduziam Gastón, o Confeiteiro, para a viatura. Assim que me viu, o delegado se aproximou.
—Garota Atômica… Em nome de toda a força policial e dos cidadãos, eu gostaria de agradecer… Você não salvou apenas a vida daquela garota, você salvou a todos nós . O veneno do Confeiteiro tinha o efeito de derretimento após certo período de tempo. — agora entendi o que houve com meu uniforme. — Se você não tivesse levado a bomba, a cidade estaria arruinada.
—Eu só fiz o que devia fazer.
Nesse momento, senti uma mão sobre meu ombro e me virei. Era Jess e, se aproximando ainda mais de mim, disse:
—Oi… — e sorriu de leve.
—Oi! — respondi, sorrindo e colocando as mãos na cintura. — Você está bem?
—Bom, eu não morri! — ela riu. — Melhor impossível… - parecia até mesmo radiante. — Eu só… Queria dizer… É…
—Sim?
—Obrigada! — ela me abraçou com força e depois permaneceu agarrada ao meu pescoço. — É que eu… Eu sou uma grande fã sua e… Eu nunca imaginei que um dia eu… — percebendo o que estava fazendo, ela me soltou e se recompôs, ajeitando a roupa. — Ahm… Ficaria tão perto de você.
—Você já ficou perto de mim há mais do que imagina! - eu sorri uma última vez e em seguida levantei voo.
***
Hospital Central – Sábado – 00h46min.
Me aproximei da cama de Mary. Nesse exato momento meu celular vibrou. Era Jess mais uma vez.
Jess: BELLY, VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR!
Eu: O que houve?
Jess: Eu vi a Garota Atômica! Tipo, na minha frente! Ela me salvou!
Eu: Como assim salvou? Você tá bem?
Jess: Depois eu te explico! Estou quase sem bateria! Nos vemos quando eu voltar da casa dos meus pais! Beijos!
Eu: Beijos! Até logo!
Guardei o celular novamente e então olhei para Mary adormecida.
—Oi, amiga… — eu sorri levemente. — Você não vai acreditar no dia que eu tive hoje.
***
Escritório da Something S.A. – Sábado – 01h00min.
—Passe de novo. — disse um homem alto e de terno, sentado em frente a uma enorme mesa, olhando para uma tela de TV do outro lado da sala. As imagens transmitidas eram das câmeras de segurança do galpão capturadas na última semana durante a tentativa de roubo que Garota Atômica impediu.
O homem observava o momento em que a heroína lançara a rajada de energia contra as lâmpadas.
—Isso é interessante… — ele sorriu. — Sei como posso usar.
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